Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência

Margarida trabalha com inteligência artificial, Cristiana investiga a sustentabilidade das empresas e Carolina o cinema em stop-motion.

As três são bolseiras, afetas aos centros de investigação que o IPCA possui, nas áreas da tecnologia, da contabilidade e fiscalidade e do design. Em comum têm o facto de serem mulheres que iniciaram a sua investigação enquanto frequentavam os mestrados, abrindo uma porta de entrada para o mercado de trabalho que nem sabiam que existia.

São três exemplos do que é ser-se Mulher na Ciência, por isso, para assinalar o Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, que se comemora a 11 de fevereiro, por iniciativa da ONU, vamos conhecer um pouco melhor as suas histórias.

 

Margarida Ferreira é a benjamim do grupo. Com apenas 23 anos é bolseira de investigação no 2Ai, o Laboratório de Inteligência Artificial Aplicada, já há mais de um ano. Depois da licenciatura em Engenharia Biomédica, e a frequentar o mestrado em Engenharia Informática, uma bolsa de investigação que alia inteligência artificial à área da saúde pareceu-lhe uma excelente oportunidade.

O seu dia-a-dia passa-o a desenvolver software para o projeto OncoNavigator, um robot colaborativo que pretende estudar e desenvolver uma nova solução tecnológica de navegação que combina em tempo real as imagens da ecografia mamária, de forma a melhorar a precisão das atuais intervenções do cancro da mama. O projeto tem várias vertentes, sendo que Margarida está a desenvolver software para aplicar a inteligência artificial ao robot. Trocando por miúdos, “a minha parte é a segmentação, ou seja, depois de recebermos as imagens de ultrassom vamos delinear automaticamente as lesões e classificá-las”, tudo isto através do recurso a inteligência artificial, tornando o diagnóstico bastante mais preciso.

Para Margarida, poder trabalhar num projeto que tem impacto direto na melhoria de vida das pessoas é uma motivação e enorme: “Muita investigação não sai do papel, mas aqui no IPCA vemos o projeto a crescer e a acontecer, a sair para o mercado, e isso é incrível”.

A equipa do projeto OncoNavigator começou com 5 pessoas e atualmente tem já mais de 20 investigadores. O projeto está a crescer e a criar oportunidades, por isso, Margarida deixa o conselho aos estudantes do IPCA: “Esta é a oportunidade perfeita para quem quer fazer a sua tese de mestrado. É um ambiente incrível com muita entreajuda, uma oportunidade única”.

 

Cristiana Molho tem 26 anos, é licenciada em Gestão de Atividades Turísticas e mestre em Gestão de Empresas pelo IPCA. Durante o seu percurso académico fez parte da Bolsa de Colaboradores e, durante o mestrado, agarrou a oportunidade de participar na Summer School do IPCA, com uma bolsa de 3 meses. Gostou tanto que continuou atenta às bolsas que a instituição ia disponibilizando, até que apareceu a oportunidade certa e conseguiu uma bolsa no Centro de Investigação em Contabilidade e Fiscalidade (CICF) do IPCA.

A sua investigação incide sobretudo sobre o reporting não financeiro das organizações, ou seja, o que está relacionado com a divulgação e o relato dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, preconizados na Agenda 2030. Cristiana analisa relatórios e o reporting dos sites, para perceber que tipo de desempenho as organizações estão a ter para implementar os ODS. Começou com as instituições de ensino superior e agora está dedicada aos municípios. Este é um trabalho teórico, que se pretende que venha a ter aplicação prática, na melhoria do desempenho dessas entidades.

Sobre o que é isto de investigar, Cristiana explica: “a lógica de uma investigação é partir de uma lacuna, de uma oportunidade ou problema que possa existir no meio empresarial e trabalhar sobre isso, encontrando novos conhecimentos ou propondo novas soluções para ajudar esse problema ou a melhorar alguma prática que possa existir”.

 

Carolina Prata é licenciada e mestre em Belas-Artes e foi no IPCA, a fazer o mestrado em Ilustração e Animação, que teve o primeiro contacto com a área da investigação. Carolina diz mesmo que: “Nunca tinha tomado consciência sobre a investigação, mas desde que entrei no MIA surgiram oportunidades de colaborar com o ID+ e aqui estou”.

Inicialmente tinha previsto fazer um estágio em animação stop-motion, mas com a oportunidade da bolsa no ID+, o Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura, ajustou-se e está a fazer investigação sobre cinema stop-motion e sobre mulheres realizadoras que emergiram nesta segunda década do século XXI. “Comecei a perceber que nos últimos anos há muito cinema de animação stop-motion a ser feito, e quando vi quais eram os meus preferidos percebi que foram maioritariamente feitos por mulheres”. Carolina está, assim, a criar bases que comprovem esta sua teoria de que houve um crescimento exponencial de mulheres nesta área recentemente, o que, para a investigadora, se explica pela dificuldade que as mulheres tiveram até agora em aceder a determinadas áreas profissionais. Paralelamente, dedica-se ainda à construção de marionetas articuladas semiprofissionais, feitas com materiais acessíveis e de fácil acesso, para que sejam fáceis de replicar e de concertar.

Relativamente à carga teórica e aborrecida que ainda se atribui à investigação, Carolina desconstrói essa ideia, já que “nestas áreas mais artísticas, qualquer projeto que façamos envolve sempre alguma investigação, que não é, de todo, uma coisa aborrecida, mas sim um caminho para conhecer um pouco mais sobre aquilo que estamos a trabalhar”.

 

Para o futuro, as três partilham a vontade de integrar o mercado de trabalho, mas sem se desligarem totalmente do meio académico, já que pretendem continuar ligadas à área da investigação e, se possível, conciliar as duas vertentes profissionais.

O Dia Internacional das Mulheres e Raparigas na Ciência, uma iniciativa criada em 2015 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, é uma forma de alertar para a desigualdade de género que penaliza as oportunidades e carreiras das mulheres nos domínios da ciência, da tecnologia e da inovação. No IPCA há, neste momento, 50 bolseiros de investigação, sendo que desses, 33 são homens e 17 são mulheres, o que reforça a necessidade de atrair cada vez mais investigadoras para esta área.