Ilustração de docente do IPCA vence Prémio Bissaya Barreto

A obra infantojuvenil “Noa”, ilustrada pela docente do IPCA Raquel Costa, e com texto de Susana Cardoso Ferreira, venceu a edição de 2022 do Prémio Bissaya Barreto de Literatura para a Infância.

A obra vencedora, publicada em 2020 pela Oficina do Livro, conta a história de Noa, uma menina que vive numa ilha mas que não quer ver o mar, desde que um acidente de pesca lhe “roubou” os pais. Noa acaba por ir morar com o avô e, com o sofrimento pela perda dos pais, deixa de falar.

Concorreram a esta 8ª edição 197 obras, com a participação de 66 editoras e de 12 edições de autor. Raquel Costa afirma que este prémio é um passo fundamental para continuar a desenvolver mais e melhor o seu trabalho. “Este livro é um trabalho de paixão de ambas (Raquel e Susana), que tivemos a felicidade de partilhar. Sentimos que é um reconhecimento do valor desse trabalho, que ganha subitamente uma dimensão mais notória. E o que este prémio significa é que também poderá chegar ainda a mais leitores. Isso deixa-nos tremendamente felizes”, refere a ilustradora.

O júri do concurso teceu largos elogios aos textos e ilustrações frisando tratar-se de um trabalho expressivo e dinâmico que nunca ignora a psicologia das personagens. Palavras que deixam a docente do IPCA feliz “pois é a expressividade que nos permite conectar de forma empática com os personagens. A minha preocupação foi sempre a de procurar o equilíbrio na criação de cenas dinâmicas, coloridas, e ricas em detalhes, mas em que as opções de composição e pintura veiculassem o espaço psicológico e interior de cada personagem”, refere. Raquel salvaguarda ainda que teve sorte em lhe ser depositada a confiança de imaginar aquele mundo, aqueles personagens e a sua emotividade intrínseca como entendesse referindo que sempre que esboça uma cena tem sempre o cuidado de perceber a “melhor forma de comunicar as emoções ou a personalidade do personagem que só com estudo e prática se consegue”.

Em 2020, as ilustrações para a “Noa” foram finalistas em dois prestigiados concursos de ilustração: o da Feira do Livro Infantil de Bolonha e o Hiii Illustration, na China. Em 2021, o livro foi selecionado para o catálogo White Ravens, da Biblioteca Juvenil Internacional de Munique, que agrega os 200 melhores títulos do ano, provenientes de mais de 50 países. E agora, em Portugal, o Prémio Bissaya Barreto de Literatura para a Infância.

O Prémio Bissaya Barreto de Literatura para a Infância foi criado em 2008, com o duplo objetivo de contribuir para a valorização e promoção da literatura de qualidade destinada à infância e para a valorização da dimensão estética do livro.

O prémio, no valor global de 5.000 euros, é atribuído, em conjunto, aos autores da obra selecionada (texto e ilustração).

 

De artista visual a ilustradora

Raquel Costa, define o seu percurso profissional como algo “sinuoso”. É natural do Porto, artista visual e ilustradora, formou-se em Artes Plásticas — Escultura e é mestre em Ensino de Artes Visuais. É professora da Escola Superior de Design do IPCA, participa com regularidade em exposições a solo e coletivas, em Portugal e no estrangeiro, orienta oficinas de ilustração e realiza sessões de desenho ao vivo.

O gosto pela ilustração “acabou por surgir de forma orgânica, quando percebi que sentia esse fascínio pela criação de histórias com imagens, e que estava pronta para fazer essa mudança de rumo profissional”, refere a Raquel que explica que como começou tarde, teve de trabalhar com dupla intensidade para compensar, estudando e praticando o máximo que podia em todos os momentos.

No início da sua carreira, criou uma marca própria de produtos ilustradores em papel – Little Black Spot Extraordinary Stationery – projeto este que define como “uma montra muito visível do meu trabalho, e foi graças a ele que me pude dar a conhecer aos meus primeiros clientes, às editoras de livro infanto-juvenil”. Mais tarde co-fundou o Little Black Spot Creative Studio, onde actualmente desenvolve trabalhos nas áreas da ilustração, desenvolvimento visual para animação e design de comunicação, para os mercados editorial e publicitário.

Raquel Costa já ilustrou vários livros infantojuvenis e vê na atribuição deste prémio um novo ponto de partida, uma oportunidade para continuar a fazer evoluir o seu trabalho.

A ilustradora sempre teve paixão pelo ensino motivada pela ideia de partilha, de experiência e conhecimento, e de ajudar os outros a atingir o seu máximo potencial e deixa uma mensagem a todos os seus alunos e a todos os que querem seguir a área da ilustração e design: “A mensagem é que não é muito relevante o ponto de onde começamos. São muito mais determinantes as escolhas que vamos fazendo pelo caminho, e a forma como aproveitamos as oportunidades que nos vão apresentando. E nunca sabemos exatamente onde poderemos chegar”.

A convite do IPCA, fez a imagem ilustrativa do 25 de abril associada aos estudantes e à iconografia do dia, sendo que a leitura da ilustração é que “só em liberdade vivemos a vida plena. Só em liberdade se constrói um futuro digno para as gerações mais jovens. Um futuro de felicidade, justiça e paz. Os acontecimentos a que assistimos no mundo atualmente fazem abalar a esperança nestas ideias. Mas é por isso mesmo que elas se tornam ainda mais vitais. A liberdade está – ou deve estar – no princípio de tudo, e por ela vale sempre a pena lutar. 25 de abril, sempre”, refere a ilustradora.